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Grandes BROTHERS .

Era uma vez um povo forte! Não sabia que o era, pois tratado como bastardo, fora submetido à séculos de violência, escravidão, animalização e invisibilidade.

.Havia também os filhos legítimos, humanos, complexos (não precisavam ser fortes, não precisavam se ver como povo)! Aos olhos de todos os deuses, eram todos Grandes Irmãos!

.Mas os legítimos sempre ganharam com a animalização dos bastardos – mesmo quando a recriminavam performaticamente – e, então, de vez em quando, usavam os recursos hereditários acumulados, e escalavam um ou outro bastardo – os mais fortes, belos e bom de briga – para grandes e lucrativos shows (futebol, basquete, boxe, filmes pornôs ou de gangue)… os poucos selecionados, entre os bastardos, sentiam-se lisonjeados, as vezes, até melhores do que os não-selecionados. Sentiam-se, (quase) legítimos, (quase) superiores, superiores, portanto, aos que nem (quase), podiam se sentir. Olhavam-nos, as vezes, de cima para baixo… assim como eram olhados.

.De todo modo, galo de briga bom é valoroso, mas dorme no poleiro. Já a Casa, Grande, era para poucos Brothers, legítimos. Sempre houve o show dos horrores. Mas a TV, e depois a internet, ampliou o Truman-show à níveis espetaculares. Aquele povo forte, reduzido à bastardos galos de briga, ou nem isso, ficava de fora. Desejava, em silêncio, ou textões lacrativos, um dia poder entrar. Mas sequer, era visto como Brother, portanto, jamais convidado ou representado na Casa, Grande. Dilacerado pela não reciprocidade do seu amor, enquanto sonhava em vão em ser legítimo, blasfemava pragas ressentidas e desejos pecaminosos de que um dia a Casa, Grande, desmoronasse em chamas.

. Um dia, em um ano de mortes, quando a Casa, Grande, carcomida, já estava para ruir, sem graça e função diante de novas Casas, menores, que foram surgindo nas redes da vida, os Brothers legítimos optaram, como último ato de desespero, por “incluir” os bastardos. E esses gladiadores, raivosos como sempre foram – seja por desejo de serem legítimos ou, simplesmente, por não ter outro lugar para ir – entraram, agradecidos.

.Quem poderia recusar à um convite desses? Os bastardos, agora, poderiam esquecer sua condição ilegítima de animal e, simplesmente, serem humanos, em suas grandezas e mediocridades, em uma Casa, Grande, competitiva…ficaram à vontade – até porque, não há militante hiper-revolucionário, ou nem tanto, que consiga usar essa máscara discursiva 24 horas por dia – e se esqueceram que eram bastardos…mas os legítimos não!

.O que se assistiu a seguir – captada pelas 11 câmeras escondidas e projetadas em milhões de telas pornográficas, atentas e sedentas por carne humana viva, dilacerada à olho nu – foi o Show dos horrores mais sangrento da história, da Casa, Grande.

.E assim, todos os demais sangues foram secundarizados…. e a Casa, Big, dos Brothers, legítimos, triunfou, mais forte do que nunca. Já os Brothers, bastardos…

Deivison Nkosi

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