Quem diria que um dia chegaríamos a este ponto: sempre desejamos que os brasileiros discutissem política com a mesma paixão que destinavam ao futebol, novelas e BBB… até que um dia: Zassssss! nossos desejos foram realizados com sucesso!!!
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PRIMEIRO: o FlaXFlu se converteu na apaixonada disputa identitária MortadelasXCochinhas que resultou num golpe político-jurídico (no futebol, não importa se o juiz está certo ou errado, mas se apita a favor do meu time) = perdemos todos ao eleger, pelo ódio, um presidente técnica e politicamente despreparado, mas acompanhado por terraplanistas anti-científicos e ultra-liberais malthusianos perversos…
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AGORA: Diante de uma ameaça global de saúde e o risco real de morte de milhares de pessoas o aviso da comunidade científica e médica do mundo todo é recebido pelo “lado de lá” da “torcida organizada” como “HISTERIA desnecessária promovida pela esquerda para dar um golpe no Mito”. Nós o chamamos de louco e eles nos chamam de histéricos!!! Olha como a psicologicização da política é despolitizante, além de preconceituosa.
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É inacreditável, mas boa parte da base de apoio do “Mito” (que inclui trolls, robôs digitais e humanos robotizados pela ignorância obscurantista ou por interesses econômicos) não está abalada com o pronunciamento de ontem, mas sim, ainda mais obstinada a defendê-lo da “histeria da esquerda” ou de uma “conspiração” contra o seu mandato. O que dizer a este outro radical quando nem mesmo a linguagem é permeada por signos comuns?
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Se não fôssemos “nós” e os “nossos” a morrer primeiro pela irresponsabilidade “deles”, o desejo mais primário e legítimo seria o de aguardar e esperar que o contato corpo a corpo da manifestação do dia 15/03, bem como o descrédito e resultante quebra de quarentena “deles” permita que o vírus faça o seu trabalho sem ser interrompido… mas o problema é que somos “nós” que limpamos as casas “deles”, trabalhamos em suas lojas, empresas ou fábricas sem, contudo, termos os mesmos recursos que “eles” têm, no caso de uma necessidade grave de saúde.
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Então, já que o léxico psíquico é a única coisa que une as duas torcidas nesse FlaxFlu angustiante, vale lembrar que, pelo menos na psicanálise, o desejo nem sempre se trata de algo que precisa ser realizado mas sim de uma falta. A “falta” em questão, que é anterior ao COVID19, pode ser a nossa incapacidade de intervir politicamente na sociedade e nos rumos do Estado, de fazer valer os nossos argumentos e diagnósticos em tempos de anticientificismos (que outrora “nós” mesmos alimentamos em nossa luta contra o cientificismo). O desejo diz mais sobre nós (sobre mim) do que sobre eles…
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Neste caso, reconhecer o desejo é fundamental, mas, em todo caso, vale seguir o conselho da minha avó D. Maria, e seguir pensando como fazer e reinventar a política na prática (diante de uma tragédia anunciada) em tempos de confinamento.
#covid19
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Filho, cuidado com o que você deseja!
Quem diria que um dia chegaríamos a este ponto: sempre desejamos que os brasileiros discutissem política com a mesma paixão que destinavam ao futebol, novelas e BBB… até que um dia: Zassssss! nossos desejos foram realizados com sucesso!!!