Meu amigo, eu preciso lhe falar
É que ta entalado
Talvez você num me entenda
Mas eu vou ter que falar
Eu fui arrancado da minha mãe
Do meu pai, da minha terra
– E você não falou nada
Fui estupradA, escravizado, morri aos milhões
Por tortura, maus tratos ou na linha de frente das guerras
– Você num falou nada
Disseram que a minha religião era do demônio
Que eu era feio, que não tinha alma…
– E você não disse nada.
Me obrigaram a virar cristão
Disfarçaram a dor da escravidão, me arrancaram o coro das palmas
E vc… nada!
Quando eu num interessava mais me jogaram na rua
Com nome de abolição
E então dessa vez você… Também não disse nada.
Ah! Mas num dá pra esquecer a vontade que dava de morrer
De ver você na tV e não me ver…
Eu me achava feio, me achava incapaz.
Quantas vezes eu quis ser você, te imitar
Te possuir, pois só assim eu poderia esquecer quem eu era
quem eu fui, quem eu sou… Quem eu sou???
Eu sou o menor e você o estudante
Você é a única referência – mas não diz nada!
Eu também não me via nos livros, na História
Se bem que até me vêm na memória eu no lixão
No sambão ou sendo pentacampeão
Mas nunca patrão.
Vi você brigando com ele – o patrão
Mas sobre mim… Você num falou nada.
Também não falou nada quando chutaram meus orixás
Quando riem do meu jeito, do meu cabelo
Quando não me contratam no emprego.
Como eu fui esquecer: Disputei a vaga com você!
Me pediram p/ esperar…
Você entrou lá, começou a trabalhar, militar, lutar e eu….
Eu fiquei revoltado, irado, não sabia se quebrava tudo ou ficava desanimado
Quis ficar organizado, preparado, o confronto articulado;
Colei em você e te intimei:
“E aí Cara pálida? Viu como tão me tratando até agora?
Essa elite que você também não gosta…
Viu como é foda!
EU VOU EXPLODIR, QUEBRAR, VIRAR O JOGO!!!”
E você… não sei bem explicar o porque
Com medo de perder algo, por não ter se incomodado
Ou por ser “humanizado”…
Vem agora e me diz:
“Calma! Somos todos iguais”
Deivison Nksoi – 2007
2 respostas em “Consciência humana”
EXATAMENTE ISSO, COMO NÃO PODERIA SER EXATO, DE CERTO E VERDADEIRO ESSE POEMA?
Gostei muito, vou lê-la na aula de Filosofia.