Nós, aqueles a quem não foi permitido ficar em casa, seguros/as, esperando a crise passar;
Nós, que seguimos em risco: amontoades nos transportes coletivos, entregando o seu delivery ou garantindo as suas futilidades básicas;
…aqueles que presenciaram os filhos serem mortos pela polícia, em casa ou na casa da patroa, enquanto levávamos o seu pet para passear;
Nós, a quem fizeram escolher entre a morte, sem ar, pela Covid19, ou a vida sem fôlego, por medo da fome, violência e o desamparo;
Nós, os que morrem 40% mais por Corona, os 70% mais assassinados pela polícia, mas cujo a representação política e poder efetivo junto aos “70%” que se pretendem oposição à tragédia atual, é ínfima;
Nós, enfermeiras, faxineiras, seguranças, carteiros, diaristas, ubers, entregadores, estudantes, mães e pais de filhos pretos, veados, sapatões, não binários, ou os/as militantes verdadeiros que que seguem nas ruas coletando e entregando mantimentos, ajudando o velório de famílias vitimadas pela conjuntura genocida;
Nós, aqueles que não podem mais respirar, há 500 anos, mas que sentimos aumentar sob o nosso pescoço o joelho militarizado do poder, cada vez mais, assumidamente genocida;
Nós, que assistimos há décadas, a indignação performática, da maior parte da esquerda e de uma parcela direita, acompanhada da negligência em relação ao racismo de lá ou de cá,
Nós, diante da chance real de velar a nossa própria quase-morte, em um protesto vivo, nas ruas, neste domingo… estamos com receio: de um lado, o risco do protesto físico facilitar a exposição à Covid19… do outro lado, a ameaça real de criminalização da luta por justiça…
Não há consenso! Mas o maniqueísmo aqui deve ser evitado! É falso e desonesto responsabilizar os manifestantes pela difusão do vírus: observe o tabuleiro macabro dos interesses econômicos e político do país e encontrará seus verdadeiros responsáveis. É igualmente equivocado recriminar quem optar por seguir em casa: os riscos têm se anunciado abertamente a qualquer um que tenha olhos e ouvidos… e para, nós, pretes, há ainda o temor da velha indignação performática diante das velhas dimensões raciais da exploração de classe, que tem marcado, a dita esquerda nas últimas décadas.
Há dúvidas entre Nós se a “comoção” com o racismo seguirá, após Minneapolis sair da pauta; dúvidas se os atos podem favorecer a “legitimidade” do contra-golpe em curso; dúvidas sobre a existência ou não de outros meios (não presenciais de protesto)…
Ainda assim, uma parte de Nós, marchará neste domingo, junto com outros movimentos sociais, não por estarmos dormindo no barulho, mas por entendermos ser essa a Nossa tarefa histórica. Marcharemos por estamos cansados de ficar na arquibancada de um jogo político que nos afeta diretamente.
Marcharemos porque não podemos mais respirar! Se você, pelo motivo que for, decidiu não ir, não responsabilize a vítima, quando em um ato de desespero e completa falta de perspectiva, arrisca a própria integridade se lançando contra o opressor… mas se decidir ir, não esqueça em nenhum momento das medidas possíveis de segurança contra o vírus e outras ameaças, porque seguimos Nós, os mais vulneráveis entre os vulneráveis.
4 respostas em “MARCHAR OU NÃO MARCHAR? EIS A QUESTÃO!”
[…] organizadas chegaram a tentar impulsionar alguma mobilização, que gerou alguma repercussão e discussão, mas foi rapidamente administrada e extinta pelos bombeiros de plantão, que a transformaram em […]
Todos os parlamentares presentes na Reunião Ministerial do dia 22/05/2020 disponibilizada pelo Ministro Celso de Mello deveriam ser depostos, pois foram eleitos para se empenharam pela Democracia e não fazem hoje jus ao QQ lhe foram creditados.
Fora Parlamentares brasileiros
Fora Bolsonaro
Fora Mourão
DIRETAS JÁ!!!!!
Não irei por fazer parte do grupo de risco. Tenho profundo receio desse período onde o vírus está chegando em seu período mais letal, mais reconheço os argumentos aqui colocados e agradeço por ter pensadores como vc que traz lucidez nesse momento de tantos sentimentos e receios politico-raciais. Que se faça valer a pena!!!
” No jogo da política nao cabe bestialidades, no campo das regras do jogo espera-se que sejamos políticos …ser político é não expor as vulnerabilidades situacionais e ser estratégico. Não se ganha uma guerra como essa em um dia …portanto…aguardar o momento certo é fazer política.”