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COLONIALISMO DIGITAL

Livro: COLONIALISMO DIGITAL: por um crítica hacker-fanoniana

O tempo presente, marcado por vertiginosos avanços tecnológicos-digitais, é, também, paradoxalmente, o momento que experimentamos uma distopia real: um cenário cyberpunk onde as mais altas tecnologias (high-tech) convivem e, até propiciam, as mais baixas condições de vida (low life). Uma vida cada vez mais acelerada, mecanizada e vazia. Ao mesmo tempo, dados informacionais, extraídos com ou sem consentimento de usuários comuns em todo o globo terrestre, são vendidos, armazenados e/ou processados por supercomputadores em algum país do norte global, enquanto o resto do mundo é reduzido à fornecedor de dados e consumidor de tecnologia produzida em países ricos. Compreender esse cenário é o objetivo da obra Colonialismo Digital: por uma crítica hacker-fanoniana, de Deivison Faustino e Walter Lippold

Lançado pela Editora Ciências Revolucionárias, o livro é um ensaio que parte da descolonização tecnológica proposta por Fanon em sua experiência na Argélia, para enfrentar as ilusões febris do fetiche da tecnologia e de um suposto capitalismo imaterial. Os autores constroem seus argumentos a partir da crítica da economia política de Marx, dialogando com o conceito de fabricalização de Terezinha Ferrari para entender o lugar das tecnologias informacionais nas expressões contemporâneas de racismo e, sobretudo, na luta de classes. O prefácio é assinado pela Professora Karina Menezes da UFBA, integrante do Raul Hacker Club; o texto da orelha do livro foi produzido pelo pesquisador e tech society fellow da Mozilla, Tarcízio Silva.

Crescem, no mundo todo, os estudos e publicações sobre colonialismo digital e o colonialismo de dados, no entanto o elemento mais importante do fenômeno colonial muitas vezes passa batido:  a racialização. O racismo algorítmico é analisado  aqui dentro de uma totalidade concreta, onde as propriedades do fenômeno se desenvolvem através de suas contradições: no cenário do colonialismo digital, o suposto “fardo do homem branco” se converte em fardo do nerd branco a partir da manipulação neoliberal da caridade tecnológica como forma de atualizar controles geopolíticos, ideológicos ou empresariais em territórios historicamente privados do desenvolvimento tecnológico. 

 A sociedade pandêmica acelerou um processo de imersão digital que, ao longo das últimas duas décadas, modificou as mediações na sociabilidade, no mundo do trabalho e entretenimento. A plataformização das relações de produção capitalistas levou a precarização do trabalho, plasmando a ideologia do sujeito empreendedor, empresário-de-si mas, sobretudo, intensificou uma plataformização da vida. Mais que um sujeito, um projeto 24/7, temos sido cada vez mais mercadificados através de redes sociais e serviços de streaming que extraem nossos dados e biodados, rumo ao aprofundamento das conexões em uma internet das coisas, onde as coisas parecem mais vivas e conscientes de si do que nós, imperfeitos e finitos humanos.

As big techs sediadas no Vale do Silício são empresas monopolistas com mais poder que muitos Estados Nacionais e a utopia do ciberespaço descambou para a distopia do vigilantismo digital e mercadificação pervasiva da vida. A materialidade do colonialismo digital se expressa na criação de mundos da morte na África, Ásia ou América do Sul, espaços de extração de matérias-primas da terceira e quarta fase da revolução industrial. Ao mesmo tempo, observa-se a universalização de uma espécie de acumulação primitiva de dados em detrimento da privatização do estado de bem estar digital, acessível a uma pequena parte de usuários pagantes e grandes monopólios empresariais. 

Se os autores estiverem corretos em sua prospecção e hipóteses, o colonialismo digital – tratado em minúcias no livro –  não é um eufemismo ou metáfora de poder, mas uma tendência objetiva da divisão social e racial do trabalho no capitalismo contemporâneo com poder de intensificar a um patamar jamais visto as formas de exploração e opressão. Este diagnóstico não significa, no entanto, razões para pânicos distópicos e imobilizadores mas, ao contrário, convida-nos a um debate, cada vez mais incontornável, a qualquer projeto societário que almeje se contrapor à atual  barbárie social. 

Autores: 

  • Deivison Faustino é doutor em Sociologia e Professor do Programa de Pós-Graduação em Serviço Social e Políticas Sociais da Universidade Federal de São Paulo. É integrante do Instituto Amma Psique e Negritude e pesquisador do Núcleo Reflexos de Palmares onde pesquisa, entre outros temas voltados à relação entre capitalismo e racismo, o colonialismo digital. É autor de diversos livros e artigos sobre Frantz Fanon, capitalismo e racismo, e pensamento antirracista onde se destaca Frantz Fanon: um revolucionário, particularmente negro (2018) e A disputa em torno de Frantz Fanon: a teoria e a política dos Fanonismos contemporâneos (2020), Frantz Fanon e as encruzilhadas: teoria, política e subjetividade (2022). 
  • Walter Lippold  é doutor em História e pesquisador do Núcleo Reflexos de Palmares, investigando os fenômenos do colonialismo digital e do hacktivismo. Pesquisa a obra de Fanon e a História da Argélia. Membro do Coletivo Fanon,  escreveu o livro Frantz Fanon e a Revolução Argelina (2021), lançado pela Editora Ciências Revolucionárias no Brasil e pela Editora Proprietas em Portugal, nas quais atua como editor. 

Capa: Marlon Mello 


Pré-venda: https://www.boitempoeditorial.com.br/produto/colonialismo-digital-1329

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